terça-feira, 14 de setembro de 2010

Quando o Vento Sopra


Morto, aquele aflito coração, já estava. O corpo era apenas a parte densa; a carcaça negra e lúgubre que, na terra, Deus, sabiamente, costuma deixar, a fim de aliviar a angústia dos que temem diante deste abismo gigante que é a morte.
Encontrá-la viva, a partir de agora, somente nos poemas, por ela, escrito. Seu sangue, desde então, será a frígida tinta espessa. Seu rumo estará em cada linha posta e lida. Sua dor será cada pausa; sua angústia, cada vírgula. E em meio este turbilhão de confusas palavra, seu amor é cada rima.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

CUIDE BEM DO SEU CORAÇÃO


Cuide bem de seu lago, com tudo que nele existe.
(....)
E quem sabe, quando crescer,
encontre uma linda moça
Que terá como coração, sementes.

Tendo cuidado bem do seu lago,
Regará, com a límpida água,
Todas as sementes que ela oferece.

Tua água cuidará das sementes,
E quando tiverem filhos, um dia,
Cada um terá como coração, uma planta.

O mais forte, um pé de bambu;
A menina, um campo de lírios;
E o terceiro, quem sabe um poeta,
terá como coração uma enorme árvore,
Onde pássaros farão os seus ninhos.

Então cuide bem de seu coração.
Do seu lago. Pois ele guiará teu caminho,
Desde já, todos dependem dele,
Seja a semente, o bambu, os lírios, a grande árvore e até os passarinhos.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

FRANCO BRASIL


Degolaram Matise.
Mataram De Gaulle.
Envenenaram Voltaire.

Viveu Victor Hugo
Que mudou de profissão
E foi vender bolsas.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

DO AUTOR:


Aqui vai um conselho aos que me lêem: Não confiem em nada que eu diga ou fale. As palavras, embora extensões do meu ser-uno, são meras limitações do meu espírito. Escrevendo, me subordino a elas. Doces verbetes que oferecem a ilusão. A sensação de liberdade! Falsa liberdade! Palavras apenas rotulam e separam uma coisa de outra. Palavras desconhecem que a totalidade é indivisível! Quem nunca teve aquela sensação inexplicável, para além de qualquer verbo, de qualquer oração ou onomatopéia, e por querer transbordá-la ao mundo acaba por cair na subjetividade escrita?

Se quiserem algo para ler que realmente lhes toque com profundidade, leiam o meu silêncio. O silêncio do meu corpo. O silêncio da minha mente. Em silêncio experimento a liberdade e o desapego de todas as aflições. Todos podem lê-lo a qualquer momento! O meu silêncio é o seu silêncio e a minha paz é sua paz! O silêncio é o mesmo para todos. Sem discriminação. Quando quiserem ler-me, fiquem em silêncio e apenas respirem e por vezes, sorriam. Encontrarão-me no silêncio, dentro de vocês!

Se posso dar um conselho aos que me lêem: Duvidem de minhas palavras! Mas duvidar do meu silêncio é questionar suas próprias certezas.

Bom...Aconselho que também o façam!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pequeno Pássaro, Passarinho...


Doce pássaro que em minhas velhas raízes encontro.
Perdido e desolado lhe tomo em meu tronco
Como a mãe terra lhe tomaria no colo.
Frágeis asas, frágil seu canto;
doce pássaro que treme neste início de Outono.

Agora, aquecido, voe, passarinho!
Voe pra onde é verão!
Em meus galhos farei um ninho,
para quando voltar, então.

Pequeno passaro, passarinho,
quão doce é sua canção.
Volte para ensonar os estribilhos
às cordas tão nervosas deste descompassado coração.

Pequeno pássaro, passarinho,
de tão longe veio vindo,
e sem eu ter percebido,
fiz seu ninho em meu coração!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

SOBRE EDIFICIOS E FUNDAÇÕES


Quando se constrói, é imprescindível que os operários façam uma boa base e uma firme fundação antes de qualquer outra coisa. Quanto mais bem colocado os pilares, mais alto poderá ser a edificação. Para isso existe um processo:
Primeiro estuda-se o terreno. Constituição e tempo de formação do solo (pois de acordo com a idade de sua gênese ele tem determinadas constitutivas), assim como deve ater-se, também, a atenção à sua topografia. Concluída esta etapa e já tendo um perecer geral a respeito do local de aplicação da edificação parte-se para a segunda etapa. Nesta, o construtor especula as melhores maneiras de perfurar o solo, tendo como princípio os resultados da primeira fase. Se o terreno é rochoso, o maquinário deverá ser mais forte. Se o terreno é instável deve ser perfurado lentamente e com cautela.
Feito as cavas, colocam-se as vigas. Esta é a terceira e última etapa. É onde a laje é feita. Uma boa base deve ser construída com a preocupação de passá-la por todas as vigas. São de baldrames bem construídos e de vigas seguramente assentadas que surgem alicerces capazes de amparar um enorme arranha-céu. Cumprido estas três etapas com louvor não será preciso preocupar-se com oscilações climáticas e temporais. Poderá subir paredes com a certeza de que a fase inicial do projeto foi perfeitamente bem sucedida, tendo como resultado uma prima estrutura para erguer edificações à altura que lhe é de desejo.

sábado, 20 de março de 2010

A Criança e o Pote de Biscoitos


A mesma sensação que uma criança tem quando sobe na cadeira para pegar o pote de biscoito no alto da prateleira e, por não alcançar, fica na ponta dos pés e estica todas as costelas e separa todas as vértebras de sua coluna que, alinham-se do cóccix até à ponta do maior dedo de sua pequena mão. A criança, naquele momento, é o melhor de si. Sua atenção é o pote de biscoitos! Sua mente é o pote de biscoitos! Queria ela ser o pote de biscoitos! E se por ventura, se por um acaso do destino, ela caísse do banco de costas no chão, lhe seria revelado um grande aprendizado: A Lei da Gravidade. E por frustração iria chorar.

Por mais que eu caia da cadeira, seja quantas vezes for, descubro-me enorme, pois, ao contrário de chorar, deitado no chão, posso ver quão grande, e lindo, e infinito é o céu. E tocando-o com minha mente, posso eu ser toda sua grandeza, ser toda sua beleza, toda sua infinitude!

Devíamos aprender a olhar mais para o céu!

sexta-feira, 5 de março de 2010

O Ébrio


Hoje,
vi uvas, lá fora, no jardim.
Enquanto vinho,
A uva passa.
Tinto! Tinto!
Na adega.

terça-feira, 2 de março de 2010

Vivendo e Aprendendo


A árvore, que muito se contorcia
Tentando fugir do vento e da chuva,
Um dia descobriu o céu!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Pausa para o Café



Na água quente
O calor que precisa.
No pó da semente
O odor que anestesia.
No mexer da colher
O conflito que tardia.
No fundo da xícara
A secura do dia.
No fim do café
A amargura da vida.
No nó da garganta
A sede infinita.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Panta Rei


Deixar ir embora para seguir em frente
No caminho da perfeição e do amor.
A flor, um dia se torna lixo.
O lixo, um dia se torna flor.

Aquele que Caiu


Na guerra,
deitado ao chão
já sem pernas,
descobre o soldado o seu dom de ir além
e, junto de si,
levar aqueles que se julgaram incapazes de sonhar.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O Menino e o Rio


Quando molhei meus pés no rio
Eu era apenas o menino,
E o rio era apenas o rio.

Quando a luz do Sol
Iluminou as águas,
Pude ver meus pés no fundo,
E deixei de ser menino
E o rio deixou de ser rio.

Quando a luz da lua
Tocou o não-rio
Pude ver algo mais profundo:
Eu era o rio,
E o rio era eu-menino.

Quando a luz da consciência
Tocou o rio,
Pude ver toda clareza do mundo.
Eu era e não era,
E o mesmo ocorria com o rio.

Éramos juntos, algo, além disto.