quarta-feira, 27 de maio de 2015

DISTÂNCIAS

       
Com o tempo, nossa memória da infância vai se tornando distante, algumas lembranças já não são mais as mesmas. E assim segue a vida. Pessoas que amamos, e com quem compartilhávamos agradavelmente boa parte de nosso tempo, e também lugares em que adorávamos ir, passar férias, desvendar, se tornam distantes. Se distanciam não por estarem longe, mas porque mudamos. Nós e as pessoas. Nós e os lugares. Mudamos. E nestas mudanças, a distância real surge da possibilidade de nunca mais nos vermos, de não nos darmos um abraço, de não olharmos mais aquele mar. E neste abismo criado na vida entre eu e o outro, entre eu e aquela cidade que vive dentro de mim, está um vazio tão grande que, como num instinto do meu coração, minha consciência repousa na efemeridade das coisas e meu corpo se coloca em cada espaço vazio, longo e silente, abrindo-se em comunhão com o novo. E assim, surge uma nova intimidade, novos sonhos e novos caminhos.